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A Árvore Humana

Foto de uma árvore

O ciclo da vida como das árvores,os homens crescem, aprofundam raízes, vivem experiências.

Algumas sementes passam dias, meses ou mesmo anos na escuridão do solo, apenas criando raízes fortes e profundas… Para só então emergir e buscar a luz…

Talvez uma das mais fidedignas imagens de sabedoria seja a própria natureza. Ela é sábia e de certa forma segue uma lógica que serve para tudo. Os começos, meios e fins apresentados são muito parecidos, todos através de uma causa sofrem uma consequência. E todos procuram adaptar o meio conforme suas possibilidades, habilidades e capacidades. Voltaire dizia: “os homens são feitos como os animais e as plantas, para crescer, para viver um certo tempo, para produzir seus semelhantes e depois morrer”. E assim é construída uma vida, uma sequência finita. Não pedimos para nascer, não sabemos quando e como vamos morrer, mas a vida é construída por cada um e pode ser modificada e melhorada a cada momento.

Vejam uma semente lançada ao solo, devagar ela mesma infiltra-se na terra para proteger-se, “hibernar” – algumas por mais, outras por menos tempo, e então no momento adequado, eis um rebento de vida, e algo começa a emergir de dentro da pequena semente, um broto, um arroio de vida. O que vemos é o que pode ser mostrado, contudo há muito escondido – as raízes que dão sustentação, que carregam os nutrientes extraídos do solo, que levam energia e força ao pequeno broto, que alimentam e que alimentarão a futura planta permanecem submersos.

Pequeno Rebento de Vida

As ervas daninhas crescem rapidamente sem se preocupar em formar raiz .

A maioria das ervas daninhas são assim, elas se preocupam em crescer rapidamente para fora da terra, multiplicar-se na mesma velocidade, sem se preocupar em formar uma raiz profunda.

Assim é o ser humano, precisa de nove meses para emergir do ventre de uma mulher, um pequeno rebento, que trás vida, que trás alegria. A principio mais para os que o rodeiam do que para ele próprio. O bebê agora terá que respirar por si mesmo e isso é dolorido, é angustiante, pois não possui mais o cordão umbilical que possa lhe trazer toda a energia de que precisa. Não possui mais a segurança do ventre materno, o alimento do suco amniótico, não tem mais a homeostase. Agora ele é um indivíduo único no caminho de tornar-se um ser humano, de ser livre de seus próprios atos. Claro, a criança precisa da mãe, assim como a pequena planta precisa da terra.

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Algumas sementes só vão criar raízes após também soltarem seus brotos, outras precisam de uma pequena raiz para aventurarem-se e saírem para à luz, porém ambas são vulneráveis. A maioria das ervas daninhas são assim, elas se preocupam em crescer rapidamente para fora da terra, multiplicar-se na mesma velocidade, sem se preocupar em formar uma raiz profunda. Por isso fáceis de serem arrancadas e sucumbidas pelo calor do sol e a falta da energia vital vinda do solo. Da mesma forma o indivíduo que preocupa-se com as aparências, que desdenha a boa formação, que não se alimenta internamente com virtudes, que não constrói um espírito forte, nem busca autogovernar-se. Este torna-se frágil, torna-se dependente e facilmente sucumbe ao real. Sucumbe frente aos desafios, frente as dificuldades.

Amor e Paixão a Si

Amar-se a si mesmo, se importando com o que está dentro e não só uma imagem.

Quando se olha no espelho e sente repugnância, é porque era apenas apaixonado e amava uma imagem

O ser humano precisa amar a si para depois amar o outro. Amar-se sim, apaixonar-se não, isso porque a paixão é o não domínio dos próprios sentimentos, paixão é amar uma imagem, amor é amar o real. O amor está presente em momentos bons e ruins. Amar a si significa que mesmo depois de ter o corpo “mutilado”, ferido, machucado, com cicatrizes profundas, continuar amando-se, porque o importante é o que está dentro, é a existência de um espírito forte. Se ao contrário, quando se olha no espelho e sente repugnância, é porque era apenas apaixonado e amava uma imagem.

Será que aquele que tem uma autoestima elevada muda seu corpo? Será que ele quer se amar mais ou começará a amar-se a partir daí? E agora que essa imagem não existe mais? O que será de mim? E amar o outro é aceitar todas as suas diferenças e seus defeitos, assim como amar a si mesmo também o é. Aqui concordaria Sponville quando diz que “não se ama ninguém, mas sim suas qualidades”, e concluo: assim como os defeitos. Amamos uma certa pessoa porque vemos nela algo de que gostamos.

Sementes Humanas

Algumas sementes passam muito tempo no solo, para surgirem quando se sentirem seguras.

Algumas sementes passam dias, meses ou mesmo anos na escuridão do solo, apenas criando raízes fortes e profundas. Quando se sentem seguras, aí sim arriscam “olhar” para fora, expor seu broto e começar a crescer. Podem não crescer rapidamente, mas crescem fortes e seguras, com muita energia e força que extraíram por meio de suas longas e profundas raízes, por isso difíceis de serem arrancadas ou tombadas. Assim é com o ser humano que tem a possibilidade de ser bem educado, de poder aprender com as inúmeras possibilidades que a vida pode proporcionar. É preciso o outro, um pai, uma mãe, a sociedade. O humano é capaz de aprender tudo, desde que seja colocado à sua disposição e que tenha orientação. É preciso ser estimulado para desenvolver, é preciso aprender para ser.

Sábio é o homem que ensina seu filho aprender à aprender, que ensina seu filho a ser.

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Essa é a jornada empreendida pelo ser humano, a jornada da individuação, tornar-se um indivíduo único com suas características diferentes e com as diversas potencialidades esperando estímulos. Ele crescerá a partir de estímulos do meio, sendo fruto de aprendizagens para depois tornar-se agente, criador de suas próprias formas de aprender. O homem será tão mais forte quanto mais forte forem os que o cercam. Tão mais sábio quanto mais sábios forem os que o educarem. Tão mais livres, tão mais flexíveis, tão mais virtuosos, tão mais senhores de si mesmos quanto mais seus preceptores tiverem espírito forte. Sábio é o homem que ensina seu filho aprender à aprender, que ensina seu filho a ser. Assim o indivíduo chegará também à sua plenitude que é a felicidade.

Aprofundando Raízes

Aprofundar raízes para o ser humano, é aprender, fortalecer o espírito e acalentar a alma.

A existência de uma árvore será tão maior quanto mais tempo passar criando e aprofundando suas raízes. Sabemos que quanto maiores forem as intempéries e os vendavais pelos quais a árvore passar, mais forte ela se tornará, se ela resistir é claro. E sua resistência dependerá em muito se suas raízes estiverem profundas e bem estruturadas. E o homem? Ah! O homem não é diferente, aprofundar as raízes para o ser humano é aprender, é ser educado e educar-se a si, é fortalecer o espírito, é acalentar a alma. É passar pelas experiências da vida, é apropriar-se do conhecimento. É praticar o pensado e o aprendido. É incorporar o saber do conhecido. Tudo isso se mostrara eficaz quando chegarem os “vendavais”, e o ser estiver forte para suportá-lo, aprender com eles, poder estar preparado. Não importando o que aconteça, saber que irá encontrar uma solução.

A Árvore Humana

As vezes as pessoas também param. Param de pensar, de divertir-se, de gostar de alguém, de amar a si e aos outros.

Algumas plantas crescem, desenvolvem-se e de repente param. Será que já foram longe o suficiente? Será que chegaram em seu limite? Não sei! E nessa parada, algumas definham, secam, perdem suas folhas, seus galhos, e então começam a secar seu tronco. Ali está uma árvore que já teve galhos, folhas, teve flores e frutos e que agora parece estar aparentemente morta. Contudo, as raízes que são sua alma, ainda a mantém em pé. Parece ainda existir vida que teima em não morrer e algumas vezes como que por milagre, alguns brotos começam a surgir em meio ao tronco seco. É a vida lutando contra a morte.

Em outras vezes a inatividade é tamanha que a alma perde a batalha, a morte suplanta a vida e o tronco desfalece no chão e como senão bastasse, leva consigo outras plantas, arrasta cipós, esmaga folhagens, arranca rastejantes e faz a vida “chorar” ao seu redor pela destruição involuntária. As vezes as pessoas também param. Param de pensar, de divertir-se, de gostar de alguém, de amar a si e aos outros. Param de viver mesmo estando vivos. E o que é isso se não a morte por antecipação? O que é isso se não a vida “secando”? Se não a vida perdendo seu brilho?

Mas penso que a vida deveria ser vivida até a última ingestão de oxigênio. Como diria Victor Franklin “quero estar vivo quando eu morrer”. Talvez seja preciso apenas um sopro para que se acenda novamente a chama da vida num “tronco seco”. Apenas um sorriso, um afago, um carinho, uma palavra, uma emoção, um pensamento que gerem lembranças, que gerem sentimentos, que gerem vida. Esta que é construída e reconstruída a todo o momento através de novas aprendizagens, novas experiências. Viver é estar sempre vivo. Mantenha-se em movimento.

 

Odair J. Comin
Psicólogo Clínico, Hipnoterapeuta e Escritor.
Autor do livro: “Senhor de Si Mesmo”

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