A Árvore Humana
Algumas sementes passam dias, meses ou mesmo anos na escuridão do solo, apenas criando raízes fortes e profundas… Para só então emergir e buscar a luz…
Talvez uma das mais fidedignas imagens de sabedoria seja a própria natureza. Ela é sábia e de certa forma segue uma lógica que serve para tudo. Os começos, meios e fins apresentados são muito parecidos, todos através de uma causa sofrem uma consequência. E todos procuram adaptar o meio conforme suas possibilidades, habilidades e capacidades. Voltaire dizia: “os homens são feitos como os animais e as plantas, para crescer, para viver um certo tempo, para produzir seus semelhantes e depois morrer”. E assim é construída uma vida, uma sequência finita. Não pedimos para nascer, não sabemos quando e como vamos morrer, mas a vida é construída por cada um e pode ser modificada e melhorada a cada momento.
Vejam uma semente lançada ao solo, devagar ela mesma infiltra-se na terra para proteger-se, “hibernar” – algumas por mais, outras por menos tempo, e então no momento adequado, eis um rebento de vida, e algo começa a emergir de dentro da pequena semente, um broto, um arroio de vida. O que vemos é o que pode ser mostrado, contudo há muito escondido – as raízes que dão sustentação, que carregam os nutrientes extraídos do solo, que levam energia e força ao pequeno broto, que alimentam e que alimentarão a futura planta permanecem submersos.
Pequeno Rebento de Vida
![Foto de ervas daninhas crescendo sob a árvore](https://odaircomin.com/wp-content/uploads/2015/08/ervas-daninhas-na-árvore-clínica-delphos.jpg)
A maioria das ervas daninhas são assim, elas se preocupam em crescer rapidamente para fora da terra, multiplicar-se na mesma velocidade, sem se preocupar em formar uma raiz profunda.
Assim é o ser humano, precisa de nove meses para emergir do ventre de uma mulher, um pequeno rebento, que trás vida, que trás alegria. A principio mais para os que o rodeiam do que para ele próprio. O bebê agora terá que respirar por si mesmo e isso é dolorido, é angustiante, pois não possui mais o cordão umbilical que possa lhe trazer toda a energia de que precisa. Não possui mais a segurança do ventre materno, o alimento do suco amniótico, não tem mais a homeostase. Agora ele é um indivíduo único no caminho de tornar-se um ser humano, de ser livre de seus próprios atos. Claro, a criança precisa da mãe, assim como a pequena planta precisa da terra.
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Algumas sementes só vão criar raízes após também soltarem seus brotos, outras precisam de uma pequena raiz para aventurarem-se e saírem para à luz, porém ambas são vulneráveis. A maioria das ervas daninhas são assim, elas se preocupam em crescer rapidamente para fora da terra, multiplicar-se na mesma velocidade, sem se preocupar em formar uma raiz profunda. Por isso fáceis de serem arrancadas e sucumbidas pelo calor do sol e a falta da energia vital vinda do solo. Da mesma forma o indivíduo que preocupa-se com as aparências, que desdenha a boa formação, que não se alimenta internamente com virtudes, que não constrói um espírito forte, nem busca autogovernar-se. Este torna-se frágil, torna-se dependente e facilmente sucumbe ao real. Sucumbe frente aos desafios, frente as dificuldades.
Amor e Paixão a Si
![Foto de uma pessoa mostrando que se ama](https://odaircomin.com/wp-content/uploads/2015/08/Amor-e-paixão-por-si-clínica-delphos.jpg)
Quando se olha no espelho e sente repugnância, é porque era apenas apaixonado e amava uma imagem
O ser humano precisa amar a si para depois amar o outro. Amar-se sim, apaixonar-se não, isso porque a paixão é o não domínio dos próprios sentimentos, paixão é amar uma imagem, amor é amar o real. O amor está presente em momentos bons e ruins. Amar a si significa que mesmo depois de ter o corpo “mutilado”, ferido, machucado, com cicatrizes profundas, continuar amando-se, porque o importante é o que está dentro, é a existência de um espírito forte. Se ao contrário, quando se olha no espelho e sente repugnância, é porque era apenas apaixonado e amava uma imagem.
Será que aquele que tem uma autoestima elevada muda seu corpo? Será que ele quer se amar mais ou começará a amar-se a partir daí? E agora que essa imagem não existe mais? O que será de mim? E amar o outro é aceitar todas as suas diferenças e seus defeitos, assim como amar a si mesmo também o é. Aqui concordaria Sponville quando diz que “não se ama ninguém, mas sim suas qualidades”, e concluo: assim como os defeitos. Amamos uma certa pessoa porque vemos nela algo de que gostamos.
Sementes Humanas
![Foto mostrando uma semente crescendo no solo](https://odaircomin.com/wp-content/uploads/2015/08/sementes-humanas-clinica-delphos.jpg)
Algumas sementes passam dias, meses ou mesmo anos na escuridão do solo, apenas criando raízes fortes e profundas. Quando se sentem seguras, aí sim arriscam “olhar” para fora, expor seu broto e começar a crescer. Podem não crescer rapidamente, mas crescem fortes e seguras, com muita energia e força que extraíram por meio de suas longas e profundas raízes, por isso difíceis de serem arrancadas ou tombadas. Assim é com o ser humano que tem a possibilidade de ser bem educado, de poder aprender com as inúmeras possibilidades que a vida pode proporcionar. É preciso o outro, um pai, uma mãe, a sociedade. O humano é capaz de aprender tudo, desde que seja colocado à sua disposição e que tenha orientação. É preciso ser estimulado para desenvolver, é preciso aprender para ser.
Sábio é o homem que ensina seu filho aprender à aprender, que ensina seu filho a ser.
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Essa é a jornada empreendida pelo ser humano, a jornada da individuação, tornar-se um indivíduo único com suas características diferentes e com as diversas potencialidades esperando estímulos. Ele crescerá a partir de estímulos do meio, sendo fruto de aprendizagens para depois tornar-se agente, criador de suas próprias formas de aprender. O homem será tão mais forte quanto mais forte forem os que o cercam. Tão mais sábio quanto mais sábios forem os que o educarem. Tão mais livres, tão mais flexíveis, tão mais virtuosos, tão mais senhores de si mesmos quanto mais seus preceptores tiverem espírito forte. Sábio é o homem que ensina seu filho aprender à aprender, que ensina seu filho a ser. Assim o indivíduo chegará também à sua plenitude que é a felicidade.
Aprofundando Raízes
![Foto de uma árvore com raízes profundas](https://odaircomin.com/wp-content/uploads/2015/08/aprofundando-raízes-clínica-delphos.jpg)
A existência de uma árvore será tão maior quanto mais tempo passar criando e aprofundando suas raízes. Sabemos que quanto maiores forem as intempéries e os vendavais pelos quais a árvore passar, mais forte ela se tornará, se ela resistir é claro. E sua resistência dependerá em muito se suas raízes estiverem profundas e bem estruturadas. E o homem? Ah! O homem não é diferente, aprofundar as raízes para o ser humano é aprender, é ser educado e educar-se a si, é fortalecer o espírito, é acalentar a alma. É passar pelas experiências da vida, é apropriar-se do conhecimento. É praticar o pensado e o aprendido. É incorporar o saber do conhecido. Tudo isso se mostrara eficaz quando chegarem os “vendavais”, e o ser estiver forte para suportá-lo, aprender com eles, poder estar preparado. Não importando o que aconteça, saber que irá encontrar uma solução.
A Árvore Humana
As vezes as pessoas também param. Param de pensar, de divertir-se, de gostar de alguém, de amar a si e aos outros.
Algumas plantas crescem, desenvolvem-se e de repente param. Será que já foram longe o suficiente? Será que chegaram em seu limite? Não sei! E nessa parada, algumas definham, secam, perdem suas folhas, seus galhos, e então começam a secar seu tronco. Ali está uma árvore que já teve galhos, folhas, teve flores e frutos e que agora parece estar aparentemente morta. Contudo, as raízes que são sua alma, ainda a mantém em pé. Parece ainda existir vida que teima em não morrer e algumas vezes como que por milagre, alguns brotos começam a surgir em meio ao tronco seco. É a vida lutando contra a morte.
Em outras vezes a inatividade é tamanha que a alma perde a batalha, a morte suplanta a vida e o tronco desfalece no chão e como senão bastasse, leva consigo outras plantas, arrasta cipós, esmaga folhagens, arranca rastejantes e faz a vida “chorar” ao seu redor pela destruição involuntária. As vezes as pessoas também param. Param de pensar, de divertir-se, de gostar de alguém, de amar a si e aos outros. Param de viver mesmo estando vivos. E o que é isso se não a morte por antecipação? O que é isso se não a vida “secando”? Se não a vida perdendo seu brilho?
Mas penso que a vida deveria ser vivida até a última ingestão de oxigênio. Como diria Victor Franklin “quero estar vivo quando eu morrer”. Talvez seja preciso apenas um sopro para que se acenda novamente a chama da vida num “tronco seco”. Apenas um sorriso, um afago, um carinho, uma palavra, uma emoção, um pensamento que gerem lembranças, que gerem sentimentos, que gerem vida. Esta que é construída e reconstruída a todo o momento através de novas aprendizagens, novas experiências. Viver é estar sempre vivo. Mantenha-se em movimento.
Odair J. Comin
Psicólogo Clínico, Hipnoterapeuta e Escritor.
Autor do livro: “Senhor de Si Mesmo”
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