Desde que nascemos, por mais amparados que formos, seja pela mãe, pelos médicos, enfermeiras e familiares, é apenas um amparo externo. Internamente estamos e continuamos sozinhos, desde o início até o fim, angústia do viver pois. Vivemos na solidão do nosso mundo das ideias, com todos os fantasmas possíveis, monstros, bandidos e mocinhos. Contos de fadas e a realidade nua e crua. Sozinhos, absolutamente sós: angústia, sofrimento. Estamos expostos frente ao real e por vezes sem proteção alguma. A próxima rês a ser abatida, o próximo alvo do atirador; um tiro eminente e certeiro.
Angústia do Viver
Nos encontramos encarcerados por grades invisíveis, sem ninguém que possa nos salvar da vida. A angústia é aquele sinal de alerta, real ou imaginário, sempre a nos avisar que a possibilidade do pior pode acontecer. E por vezes acontece, mas nem sempre, e a maioria das vezes não identificamos o objeto de nossa angústia. Ela vem de profundos desejos não realizados, de sonhos que não foram concretizados. De momentos felizes desperdiçados, da vida que não é vivida.
Dar valor ao que possui
Muitos são aqueles que esbanjam a vida, tal qual o filho pródigo que recebe sua riqueza e a esbanja sem critérios. Quando não se sabe o valor que algo possui, invariavelmente é certo que se perca com facilidade. Que se esvaia pelo vão dos dedos como água, sem mesmo perceber. Do contrário, aquele que sabe do esforço que é necessário desprender para possuir algo, este cuida, este valoriza porque sabe quanto custou.
Assim é a vida, ela nos é dada. “Não pedi para nascer”, diz o descontente com a vida, como que jogando a quem lhe concebeu a responsabilidade. Realmente não pedimos para nascer, a vida foi-nos oferecida pela união de um homem e uma mulher. Por isso talvez, essa falta de valorização; por isso esse esbanjar a vida, como se ela fosse um rio a fluir eterno e abundante.
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Angústia pela vida que passa
Entregamo-nos ao vício, à futilidade, à mesquinhez, a pequenez, ao desrespeito. É como se jogássemos os dias de nossa vida pela janela, carregados do que o homem pode produzir de pior. Quando um dia em que fatalmente a vida chega ao fim, nos percebemos angustiados, porque a vida passou e dela pouco se usufruiu. Nos dando a impressão de que foi mais breve do que imaginávamos.
Nesta posição, há aqueles que se agarram às migalhas que ainda restam como se pudessem e quisessem resgatar o tempo perdido. Talvez olhar para trás pode parecer mais angustiante do que olhar para o futuro. Águas passadas… é tarde para fazer a roda da vida girar, mas não o é para se angustiar. E paradoxalmente, talvez, no momento em que nos impacta de forma avassaladora. Isso pode servir de motivação no sentido de usufruir melhor a vida, extrair dela o melhor. Recebemos gratuitamente a vida, nem por isso precisamos esbanjá-la.
Odair J. Comin
Psicólogo Clínico, Especialista em
Hipnoterapia e Escritor.
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