Cultive o Egoísmo
A verdade é que não aprendemos o olhar para si, cuidar de si emocionalmente…
O que você pensa sobre o egoísmo pode não ser verdade. Será? Desde criança aprendemos a voltar nosso olhar para o externo, aprendemos com ensinamentos e demandas externas. Nos ensinam como devemos nos comportar em sociedade de uma determinada forma, que devemos pedir por favor, devemos agradecer, devemos cumprimentar as pessoas, devemos respeitar as pessoas em suas diferenças, devemos tolerar o outro, perdoar o outro, devemos nos preocupar com o que o outro pensa de nós, temos que ser politicamente corretos, temos que nos adequar aos ambientes, nos adequar às normas, às regras sociais, que devemos nos espelhar no outro, que devemos ter referências de status, de sucesso, de comportamento, de felicidade, que devemos ser “alguém” na vida segundo uma expectativa social.
Toda a nossa educação e formação é voltada para o externo, para a relação com o outro, precisamos nos doar, sermos altruístas e isso é bem visto, é valorizado. A pergunta que fica é: e Eu? Está aberto a temporada de caça ao Eu, procure o seu Eu no palheiro e boa sorte em encontrar-se. A verdade é que não aprendemos o olhar para si, cuidar de si emocionalmente. E por isso, temos tanta dificuldade em lidar com as emoções, os sentimentos, tanta dificuldade em lidar com as questões mentais. Somos tão frágeis que facilmente o outro nos manipula, é porque aprendemos a nos colocar nas mãos do outro desde cedo, e é certo que fomos bem treinados nesse sentido, pois têm funcionado perfeitamente, geração após geração. Um pequeno elogio nos eleva ao céu, bem como uma pequena crítica nos empurra pelo abismo abaixo, caímos estatelados no limbo da insignificância.
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Cultive o egoísmo!
Por certo o título é provocativo, no mínimo te deixa inquieto, mexe com suas crenças, com suas verdades estabelecidas. Como assim! A palavra egoísmo está no rol dos piores adjetivos possíveis e, no entanto, aquele que ouve só queria ter um momento para si, só queria fazer algo bom para si mesmo, queria dar atenção para si, cuidar de si, se agradar um pouco, colocar-se pelo menos por um momento em primeiro lugar. Egoísta!!! A palavra ecoa em seus ouvidos e como cacos de vidro dilaceram suas entranhas. E então se martiriza, se culpa, “como pude ter tal comportamento!” Poderia você pensar, e tão logo fizesse voltaria cabisbaixo para o cativeiro do altruísmo, onde todos acreditam que é o seu lugar, seu único lugar. Melhor deixar o Eu de lado, ele não tem muita importância mesmo, vale menos do que tudo.
Tanto a palavra egoísmo como altruísmos, possuem o sufixo “ismo”, este, tem como definição o ato de determinar um ambiente específico, um conjunto de crenças, de verdades, de normas ou leis. O ismo diz que existe um lugar onde um certo conjunto de normas tem um valor, uma função, uma importância, normalmente um grupo, como cristianismo, judaísmo, nacionalismo, radicalismo e tantas outras. Portanto, egoísmo é tão simplesmente o espaço onde o Eu existe, onde ele em verdade é, o espaço das suas crenças, das suas verdades, das suas vontades, seus hábitos, seus prazeres, suas escolhas, decisões, as coisas que gosta, as coisas que valoriza, aquilo que te faz bem e deseja cultivar. É o espaço da sua identidade, da sua personalidade, e isso precisa ser preservado, cuidado, precisa ter um espaço para se manifestar, para ser cultivado, alimentado, preservado.
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Não confunda esse egoísmo aqui descrito com individualismo, pois são coisas diferentes. O egoísmo nesse sentido é um ato de amor para consigo mesmo, de valorização do Eu, de valorização da sua vida. Para que um egoísta nasça o outro não precisa morrer, o egoísmo não elimina o altruísmo, de forma alguma, antes sim fortalece ambos, porque um Eu fortalecido e bem cuidado consegue oferecer muito mais ao outro, muito mais ao próximo. O Eu em equilíbrio, em harmonia, cria um cidadão muito mais humano. A multidão não precisa ser uma massa de igual teor, antes sim um conjunto de indivíduos únicos, com seu espaço muito bem delimitado e cuidado. Então você terá uma multidão que enxerga a si, enxerga o outro e é enxergado. Aceite o egoísta que você precisa ser, aceite esse lugar que é seu, que te pertence. Cultive o egoísmo e liberte-se dos julgamentos externos, é certo que isso te fará um ser humano melhor, tanto para si como para o outro.
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