Felicidade: O Bem Supremo
Felicidade: prazer, engajamento e propósito.
O que é a felicidade? Sem dúvida uma pergunta que atravessa milênios. Muitos foram os filósofos e pensadores que tentaram e tentam defini-la, tantos são aqueles que a buscam onde quer que ela esteja. Sua definição abarca múltiplas facetas, mesmo que seja possível resumi-la em poucas palavras, ela também pode ser ampliada sem limites. Cada indivíduo adequará à sua vida, um modelo de vida feliz dentro da sua natureza, da sua realidade, dentro dos seus valores e o que para ele é o bem supremo. “Todos os homens desejam ser felizes, mas são todos cegos quando se trata de examinar em que consiste a felicidade, nenhum consegue perceber o que faz a vida tornar-se feliz”, é este o olhar que o filósofo estóico Sêneca lança sobre o homo sapiens e sua eterna busca. E quando se toma o caminho errado; quanto maior a pressa, maior será a distância do objetivo a ser alcançado.
“A vida feliz consiste na tranquilidade da mente”. Cícero
A Filosofia diz o filósofo francês Sponville, “pouco pode contra a infelicidade, mas pode muito para a felicidade”. A infelicidade é real, o sofrimento é real, quando eles chegam, arrancam lágrimas e não pensamentos. Explodem em gritos e não em palavras. Mas a Filosofia pode muito para a felicidade, pode muito para o bem viver. São os pensamentos, as palavras que criam as imagens que habitam nosso mundo das ideias. A Filosofia nos dá a possibilidade do pensar, do discurso; o real nos possibilita agir. A felicidade não está pronta, não a achamos ou a compramos; é preciso ser criada a todo instante, a cada momento presente.
Continuar querendo o que já se possui, se regozijar com o instante, estar onde se está e não querer estar em nenhum outro lugar, eis o que é felicidade…
Que pensemos, que pensemos todos e já que não há como não pensar, que pensemos bem. O bem pensar leva ao bem viver, ao bem agir. Acredite: a vida oferece mais possibilidades para a felicidade e menos para a infelicidade. Mas não vá muito longe, fique onde está, olhe por um momento apenas para você, apenas para a sua vida e verá que pode ser verdade. Há por certo muita infelicidade no mundo, mas é que há muita gente. Enquanto olhamos para a infelicidade da humanidade, aumentamos o número dos infelizes. Se for capaz de criar a própria felicidade, será o início do contrapeso.
Significado de Felicidade
Felicidade tem sua origem no termo latim felix, e quer dizer aquele que produz frutos. Portanto, poderíamos dizer que a felicidade é algo que deve ser cultivado para que “frutifique . O filósofo grego Epicuro enfatiza que devemos cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que estando esta presente tudo temos, e sem ela, tudo fazemos para alcança-la. Homem vem da palavra latina hummus, que significa terra fértil, adubo. O homem como início, as virtudes como meio e a felicidade como fim último e bem supremo de cada ação ou da própria existência. Eis a tríade que cria um ciclo virtuoso de bem viver.
“A felicidade está no gosto, não nas coisas; é por ter o que amamos que somos felizes, não por ter o que os outros acham amável”. La Rochefoucauld
A felicidade deve ser cultivada no cotidiano, nos pequenos atos, na sutileza do tempo que passa, na leveza dos pensamentos e sentimentos, na elegância das palavras e ações. Não se é feliz pela pressão, pela obrigação, pela servidão. O filósofo Alemão Friedrich Nietzsche dirá que “não é a força, mas a constância dos bons sentimentos que leva o homem à felicidade”. Essa constância, no exercício do bem, seja ele de qualquer espécie, é que leva o homem no reto caminho da vida feliz. Somos responsáveis por nosso estado de sentimentos, o outro pode sim complementar, potencializar nossos momentos felizes. Entretanto, será cada indivíduo independente de onde estiver, a cultivar e produzir sua própria felicidade, isso pelo fato desta não estar alhures, não estar em outro país, na casa do vizinho, na esposa ou marido, está sim, dentro de cada um. O filósofo Jean-Jacques Rousseau já dizia que “em vão buscaremos ao longe a felicidade, se não a cultivarmos dentro de nós mesmos”. Não há solo mais fértil e mais propício do que em nosso mundo interior.
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Definições de felicidade
Voltemos a pergunta, portanto: o que é a felicidade afinal? Seria enfim o sentido último da vida? Um bem supremo? Santo Agostinho dizia que a felicidade é desejar aquilo que já nos pertence, ou seja, desejo o ouro e tenho o ouro, desejo o amor e o possuo, desejo uma mulher e a tenho. O filósofo francês Andre Comte-Sponville dirá que a felicidade é fazer o que desejamos e desejar o que fazemos. Aristóteles definirá como uma autossuficiência, tornando a vida desejável por não carecer de nada. É o bem supremo… O bem viver e o bem agir.
O problema não é chorar quando sentimos dor,mas sim não sorrir quando estamos felizes
Isso na verdade seria o máximo da constante felicidade, e para tanto, é claro, apenas os sábios seriam capazes. Contudo, podemos sim não carecer de nada por alguns instantes ou por muitos instantes, e então nestes momentos poderíamos ser felizes. Podemos adquirir uma postura estóica, vivendo segundo a natureza e sendo felizes sempre. Isso porque a felicidade dependeria de um ponto de vista, se conseguirmos analisar os fatos e tirar deles sempre um benefício. Mesmo que tenha ocorrido uma catástrofe, poder ver isso com “bons olhos”, então poderíamos ser felizes com maior abundância.
Sêneca dirá que “devemos aceitar calmamente tudo o que pela lei do universo nos cabe suportar”. Basicamente seria a aceitação de tudo o que acontece, pois é da natureza. Seja o nascimento de um filho ou a morte de um parente próximo, pois isso faz parte e é natural que aconteça. Na verdade o é, porém, nem sempre conseguimos ter essa lucidez, essa sabedoria. O problema não é chorar quando sentimos dor, isso também é natural, faz parte, a questão é não sorrir quando estamos felizes ou não perceber quando estamos de posse da felicidade. É preciso identificar a dor, assim como o prazer, a alegria e a felicidade.
A felicidade um passo à frente
Mas, a felicidade tal como o sentido da vida, parece sempre nos faltar. Parece estarmos sempre a caminho sem um ponto de chegada. O que nos alimenta é a esperança de que mais cedo ou mais tarde, a felicidade nos saltará aos olhos como um enorme portal e nele escrito: “Bem vindos, entre e sejas feliz!”. Cada indivíduo tem seus próprios nomes para a felicidade e parece que eles dependem das contingências vivenciadas no cotidiano, todavia, sempre alhures. Para o doente, a felicidade é a saúde; para o derrotado, a vitória; para o sedento, a água; para o pobre, a riqueza. A felicidade parece estar sempre um passo à nossa frente, e por mais que nos esforçamos, não a alcançamos. Semelhante a metáfora do horizonte que se afasta a cada passo que damos. E se não o alcançamos, pelo menos nos faz caminhar. Uma trágica comparação com o homem e a felicidade, e é exatamente assim que muitos veem, mesmo que não percebido conscientemente.
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A felicidade é a única coisa que podemos dar sem possuir. Voltaire
Quando pensamos no porvir com uma possibilidade de felicidade, quando a busca do sentido da vida está na felicidade, a colocamos nas mãos do futuro, ou seja, da própria esperança, o ato de ser feliz. É certo que nossos olhos alcançam longas distâncias, todavia, ao mesmo tempo é importante que esses mesmos olhos também possam enxergar o mais perto possível, tão perto que se possa ver a si mesmo. Se se é infeliz no presente, não há como não olhar para o futuro, pois caso contrário, talvez nem conseguiria se manter vivo.
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Se a felicidade está em outro lugar que não onde estamos,como podemos então ser felizes?
Quem não deseja estar no céu, quando se está no inferno? Quem não se agarraria desesperadamente a um pedaço de futuro, quando o presente lhe parece ameaçador e sua vida corre perigo? Menos mal para aquele que é feliz e quer ser ainda mais. Mas, para aquele que não é… E se lhe dissessem que não haverá futuro, o que você faria para morrer feliz? Pergunta difícil? Talvez a resposta seja a grande saída, o grande insight para que mesmo na adversidade, possa se encontrar pontos de referência para a felicidade.
Se a felicidade está em outro lugar que não onde estamos, como podemos então ser felizes? Ao mesmo tempo, se para o doente a felicidade é a saúde, o que ele sente quando enfim está de posse da saúde? Será que ele não suporta a ideia de que enfim conseguiu o que queria, preferindo jogar fora toda água de seu cântaro, para desta forma voltar à fonte e enche-lo novamente, e assim sucessivamente? Quem em sã consciência seria capaz de tal ato? Que responda cada um daria a si próprio. Ou será que a maioria se regozijaria por possuir a felicidade. Portanto, a felicidade não é apenas o horizonte, mas também o sol que nos acompanha para qualquer lugar que formos. O horizonte pode se afastar, mas o sol nunca nos abandona. Mesmo que a turbulência da tempestade o esconda, sabemos que ele continua sempre onde está e mais cedo ou mais tarde aparecerá.
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No meio do caminho: a felicidade
Mas, pensando bem, não somos tão infelizes assim, não somos “amaldiçoados” a tal ponto, e a felicidade não é tão rara quanto colocam Sócrates, Platão, Schopenhauer, Sartre ou Pascal. É Sponville quem nos aponta para uma luz no fim do túnel, dizendo que durante o percurso, no meio do caminho há o prazer e a alegria , e estas estarão presentes quando desejamos o que temos, o que fazemos. Portanto, o desejo não é apenas falta, mas também deleite. Posso desejar um prato delicioso e estar o degustando, posso desejar estar em uma praia e nela estar passeando. “Como é bom degustar essa comida, como é bom passear nesta praia”.
Sartre dirá que a felicidade não está em fazer o que a gente quer, e sim em querer o que a gente faz , e concluo, além de continuar querendo o que se fez. Sartre mostra que essa felicidade é interna, porque parte de um querer, e só há um querer quando por trás há um indivíduo. É querer estar onde se está, é querer ter o que já possui, isso é felicidade em ato, é felicidade acontecendo. Possuir o que se quer é percurso, porém, mesmo durante o percurso é possível ser feliz, isso dependerá de como cada um perceberá os acontecimentos, mediante um bom agir.
Ou seja, a felicidade pode ser vivenciada em maior ou menor intensidade o tempo todo. Sabemos que em muitos momentos, não é fácil assim assimilar, pois, por vezes nos decepcionamos, sentimos dor, sofremos, temos frustrações, e isso faz parte do viver humano. Ao mesmo tempo, é possível nos aprimorar, evoluir, para que possamos nos tornar sábios vivendo segundo a natureza, com o máximo de felicidade. Feliz daquele que é feliz.
Odair J. Comin
Psicólogo Clínico, Hipnoterapeuta e Escritor.
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