Agressividade Infantil
Por Renato Trentini
É comum os pais perceberem comportamentos agressivos em seus filhos. Morder, xingar, chutar, empurrar e gritar são alguns atos que preocupam os adultos. “Qualquer manifestação que remeta a violência, comportamentos rudes ou desvios de conduta pode ser considerada agressiva. Afinal, tais atitudes geram dor, constrangimento e mal-estar”, afirma o psicólogo Odair J. Comin. “Os pequenos têm dificuldades para se expressar e lidar com emoções. Quando se sentem contrariados ou frustrados podem acabar batendo como forma de expressão”, esclarece a psicopedagoga Cristiane Ferreira.
“Em geral, as crianças de um até três anos podem ser mais agressivas porque o aparelho para pensar ainda está em formação e é primitivo. Além disso, elas não conhecem outros meios de conseguirem o que desejam ou rechaçarem o que as incomoda, só agredindo fisicamente ou berrando para demonstrarem”, explica a psicoterapeuta Léa Michaan. “A incidência maior de agressividade acontece na medida em que seu filho interage com outras crianças na fase escolar e se estende caso a agressividade não seja trabalhada”, alerta Odair.
A agressividade infantil pode ter vários motivos, tais como chamar a atenção das pessoas, fazer birra e nervosismo por alguma frustração. Para saber o real motivo, é importante observar sempre o comportamento dos pequenos. “Basta olhar para a criança, se colocar no lugar dela e ser solidário. Outra forma de compreendê-la é conversando. Talvez ela ainda não saiba colocar em palavras, então os pais podem ajudá-la falando as suas hipóteses até a criança encontrar alívio ao ver que você a compreendeu e traduziu em palavras aquilo que emocionalmente a perturbava”, recomenda Léa.
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“Mas a agressividade é algo comum no ser humano e será preocupante quando estiver em excesso, prejudicando seu filho e quem estiver em volta dele. Se um dia a criança mordeu outra na escola, isso não deve ser motivo de preocupação, a menos que seja constante e dure por muito tempo. Há casos em que é preciso a ajuda de um psicólogo”, adverte Cristiane. “É preciso estabelecer uma comunicação com seu filho. Busque compreender seus motivos e direcione tal frustração com comportamentos saudáveis. Incentive a criança a falar aos pais ou a um adulto o que está acontecendo e expressar seu desejo sem necessidade de agressão ou comportamentos exagerados”, ressalta Odair.
O que causa a Agressividade e o papel da escola
Muitas vezes, a agressividade infantil se manifesta por uma dificuldade da criança em se expressar. “Ela não consegue compreender os próprios pensamentos e sentimentos e é difícil expressá-los de forma clara. A agressividade acaba por ser uma válvula de escape, quando a mente não dá conta de resolver o conflito de forma racional”, explica Odair. “A agressividade acontece muito entre um ano e meio e três anos, faixa em que a criança ainda está adquirindo linguagem, mas não consegue expressar claramente suas emoções. Os pequenos dessa faixa etária, embora já falem uns com os outros, ainda não dialogam e não trocam ideias entre si, pois têm dificuldade de entender pensamentos que não são seus”, afirma Cristiane.
Além disso, há outros fatores que podem causar a agressividade infantil. “Crianças que também apresentam dificuldades para dividir seus objetos pessoais podem se sentir ameaçadas quando alguém lhes tira algo e assim ter uma atitude agressiva. Dividir um brinquedo que lhe pertence pode ser algo muito sofrido e não apenas puro egoísmo, como os adultos costumam pensar. Então, na disputa para conseguir de volta seu brinquedo, a criança pode chorar ou até morder quem o pegou”, complementa Cristiane
“Por outro lado, a agressividade infantil pode ter influência do contexto familiar ou escolar, que podem ser agressivos, tais como pais violentos ou se a criança for vítima de bullying na escola ou na rua. O ambiente também serve de base para tais comportamentos”, avisa Odair. “Por isso, as escolas precisam ter profissionais que compreendam o universo infantil. Em situação de agressividade, o educador deve ouvir a criança com toda a atenção e auxiliá-la a pensar no ódio e na raiva, nesta energia negativa que circula dentro dela e que busca escape na agressividade. Se o sofrimento for intenso e a conversa com o profissional não bastar, a criança deve ser encaminhada para um psicólogo infantil que a ajude a administrar e organizar seus sentimentos e que também oriente os pais”, indica Léa.
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A escola tem um papel fundamental na hora de lidar com a criança de comportamento agressivo. “É no colégio que os pequenos passam boa parte do tempo e é comum eles serem mais agressivos na escola do que em casa, pois em casa geralmente eles têm vários adultos à sua disposição e na escola são várias crianças para dividir a atenção de um adulto. Então, a criança vai tentar garantir seu espaço e terá atitudes para conseguir a atenção da professora. Na escola seu filho entra em contato com regras de convivência, precisa esperar sua vez para realizar atividades e tem contato com outras crianças. Mas, se a agressividade persistir, a escola pode chamar os pais para, juntos, buscarem uma solução”, recomenda Cristiane.
“Mas os pais não devem delegar a completa responsabilidade à escola, nem a escola achar que só os pais podem tomar atitudes com crianças de comportamento agressivo. Ao mesmo tempo, a comunicação entre ambos é importante, tanto para afinar seus discursos, como para saber se tal comportamento se repete tanto em casa como na escola ou são diversos. Pais e colégio precisam trabalhar em conjunto para a melhor formação e educação da criança”, aconselha Odair.
Como controlar a Agressividade
Os pais precisam ter cuidado ao controlar a agressividade dos filhos. “O castigo é agressivo. Se o pai castiga a criança, acaba aumentando o ódio dentro dela, ela será mais agressiva e isto se tornará um circulo vicioso. Portanto, procure conversar, explicar, perguntar e encontrar junto com seu filho pensamentos e ideias para dissolver o ódio. Em geral, os pequenos refletem a conduta de seus pais em casa. Será que os pais de crianças agressivas também não são inconscientemente agressivos? É importante pensar nisso”, comenta Léa.
“Para ensinarem o filho, os pais devem deixar claro que não gostam daquele comportamento agressivo. Quando, por exemplo, a criança bate em alguém, deve-se olhar em seus olhos e dizer com firmeza que não gostou, sem grandes discursos. Jamais revide, pois dessa forma estão deixando claro que bater é permitido. Os casos de birra, quando o filho se joga no chão em locais públicos e grita, indicam que ele tem uma necessidade de chamar atenção. Os pais não devem reforçar essa atitude fazendo parte da cena. Por exemplo, não devem ficar muito tempo tentando convencer a criança a parar, pedindo por favor, dizendo que estão tristes e também não devem brigar, dar broncas. O melhor a fazer é ordenar, sem gritar, mas com voz firme, que a criança pare. Também podem mostrar que existem coisas mais divertidas para fazer do que ficar chorando. Por exemplo, dizer ‘você vai ficar aí chorando? Eu vou tomar sorvete!'”, explica Cristiane.
A Criança e a Birra
Se os casos de birra são constantes, é interessante os pais procurarem ajuda de um profissional. “Mas é importante entender que a birra é normal quando acontece de forma esporádica, principalmente quando os pais levam os filhos para programas entediantes. Ficar horas no shopping fazendo compras pode ser divertido para a mãe, mas certamente para a criança não é”, ressalta Cristiane. “Também é importante premiar o pequeno pelo bom comportamento. Pode ser até um simples elogio”, aconselha Odair.
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Os pais devem ter diálogo aberto com a criança agressiva, mas não ser permissivo demais. “Em grande parte dos casos, a agressividade infantil é uma forma de implorar por limites. Os pais precisam identificar isso e dizer qual é o limite e quando é hora de parar. Ao mesmo tempo, eles devem ensinar às crianças que elas podem comunicar seus anseios por palavras, de forma inteligente, sem serem agressivas. Quando os pais permitem um determinado comportamento, seja ele qual for, é como se apoiassem a atitude do filho. E a criança é muito boa em identificar tais sinais e continuar”, alerta Odair. “Um pai permissivo não coloca limites, e muitas vezes é isso que a criança está pedindo. Ela precisa sentir-se cuidada e dar tudo o que ela quer ou deixar que faça o que quiser é sinal que ninguém cuida dela. Por isso, o pequeno precisa ser cuidado por um adulto para dizer o que pode, o que não pode e o porquê, até a criança crescer e aprender a cuidar de si mesma”, avisa Léa.
“Para ajudar a controlar a agressividade dos filhos, os pais precisam investigar como estão seus filhos globalmente: se estão bem de saúde, se dormem o suficiente, como se relacionam com os outros coleguinhas, se não têm atividades em excesso, se têm bastante tempo para brincar. Por isso, praticar esportes e atividades artísticas (como pintar, dançar e fazer teatro) são excelentes para descarregar a agressividade, pois a criança terá oportunidade de se expressar livremente”, afirma Cristiane.
Uma atividade interessante para crianças de comportamento agressivo são as artes marciais, que ensinam disciplina e autoconfiança aos pequenos.
Fonte: Portal BBel – UOL.
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