Entrevista com Dr. Odair Comin | Por Anderson Silva
Muitos profissionais apresentam características de hipomania, uma variação do transtorno bipolar, só que menos intensa.
Santo de casa nem sempre faz milagre. A empresária Silvia Patriani que o diga. Ela, que presta consultoria para gestores, ajudando-os a solucionar problemas corporativos, entre os quais de relacionamento em equipe, viu-se com as mesmas dificuldades que ajudava seus clientes a resolver: lidar com pessoas. Com a ajuda de um grupo de trabalho, que atua com psicodinâmica, Silvia se descobriu uma profissional extremamente centralizadora. “Eu defendia, cruzava a bola na área e cabeceava para o gol”, lembra, bem-humorada. Por causa de seu comportamento, chegou a perder algumas oportunidades importantes. “Quase tive um colapso”, lembra. Como solução, a empresária contratou um assistente e aprendeu a delegar. “Deixei de ser uma líder operacional e passei a atuar como gestora.”
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Difícil nessas situações é o gestor identificar que está com problemas. “Geralmente demoramos a perceber nossos padrões de comportamentos ou até negamos essa situação”, explica o psicólogo clínico Odair J. Comin, autor do livro “Mestres das Emoções”. O especialista conta que sempre aconselha sessões de psicoterapia nesses casos. “A técnica vai trabalhar questões pontuais com soluções pontuais. O resultado é mais rápido.”
Dificuldades em delegar e trabalhar em equipe são mais comuns do que se imagina e atingem a gestores de qualquer área. O psicanalista Luiz Fernando Garcia trabalha com grupos de psicodinâmica formados por profissionais de negócios e líderes empresariais. Segundo ele, os profissionais buscam ajuda porque reconhecem que alguma coisa está errada, mas, geralmente, não sabem o que é. “Chegam ansiosos ou angustiados”, destaca.
Os problemas mais comuns
Garcia conta que os problemas mais comuns estão divididos em três categorias: relações afetivas (dificuldade em estabelecer vínculos, relações familiares desgastadas), prosperidade (empresa crescendo demais, dificuldades financeiras etc.) e saúde mental (depressão, drogas, síndrome do pânico, entre outras). “Mas isso não é uma regra”, alerta. Ele destaca que uma depressão, por exemplo, pode não ser o problema, mas uma consequência.
O trabalho da psicodinâmica com esses profissionais se assemelha a uma terapia coletiva. Os gestores se reúnem em grupos de cerca de 30 pessoas, expõem seus problemas e ouvem a opinião dos colegas. Eles também aprendem lições de psicologia e psicanálise, que devem ser aplicadas no ambiente de trabalho. “Transmito teorias que devem ser aplicadas como tarefa na realidade das empresas”, explica Garcia.
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O especialista relata que muitos profissionais apresentam características de hipomania, uma variação do transtorno bipolar, só que menos intensa. A síndrome apresenta sinais de impulsividade, favorecendo compras antes da hora, compulsividade sexual, menor necessidade diária de sono, pressão ao falar em público, euforia, inquietude no corpo, megalomania e períodos de depressão. “Essa patologia é parecida com a bipolaridade, só que mais leve, e está presente no mundo dos negócios”, diz o consultor.
É preciso sempre superar a si mesmo
Para Comin, lidar com um profissional hipomaníaco, quando não se é hipomaníaco, é muito complicado. Para acompanhar o ritmo do outro é preciso sempre superar a si mesmo. Normalmente há muita cobrança e pressão por resultados. “Erros não são facilmente admitidos”, exemplifica.
Luiz Fernando Garcia narra o episódio de um empresário, dono de uma empresa com cerca de 100 colaboradores, que comprou uma segunda companhia, maior do que a primeira, como parte da estratégia de expansão dos negócios. “Ele se sobrecarregou e não conseguiu dar a devida atenção às empresas”, conta. Sem ninguém para dividir as responsabilidades, os negócios passaram a dar prejuízo. “Para se reerguer, afastou-se da família, começou a sofrer pressão da esposa e o filho se envolveu com drogas”, diz o especialista. Foi quando o empresário procurou ajuda. Depois de reencontrar o equilíbrio, ele optou por vender uma das companhias e repassar parte da outra para um colaborador antigo, que passou a ajudá-lo na administração. No mundo corporativo contemporâneo, olhar para essas questões e reconhecer os próprios limites são condições para não se desestruturar.
Fonte: Canal RH.
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