Hospitais de São Paulo usam Hipnose
Daniela Falcão
Hospitais se rendem às terapias “alternativas”
O nono andar do Hospital do Servidor Público Municipal -um dos maiores de São Paulo, abriga no fim do corredor duas salas que, até alguns anos atrás, jamais fariam parte de ambientes hospitalares tradicionais, muito menos no Brasil.
O teto forrado por tecidos verdes, as paredes adornadas com quadros de ideogramas chineses e o chão coberto de colchonetes e almofadas transformaram o antisséptico ambiente hospitalar em uma sala de meditação.
Duas vezes por dia, um grupo de pacientes descalços e levando toalhas brancas nas mãos invade a enfermaria do andar e transforma a rotina do hospital com exercícios de alongamento, toques de sino e reverências ao mestre que conduz as sessões, geralmente médicos do hospital que receberam treinamento para a função.
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Depois de conquistarem lugar cativo em instituições internacionais de prestígio, como o Columbia-Presbyterian e o Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, ambos em Nova York, as chamadas terapias comportamentais começam a ocupar espaço nos grandes hospitais do Brasil.
O objetivo da terapia
O objetivo: dar mais conforto aos pacientes, acelerar a recuperação ou amenizar o estresse desse período e até atuar como coadjuvante no processo de cura. O Hospital das Clínicas, em SP, é um dos centros em que essas terapias, também chamadas de complementares, estão mais difundidas. Acupuntura, musicoterapia, hipnose e terapia cognitiva são usadas no seu Centro da Dor. Os pacientes são indicados por médicos das várias clínicas do hospital.
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“Recebemos pacientes da ortopedia, pediatria, oncologia. A maioria vem por causa de dores crônicas, mas também tratamos de ansiedade, depressão e fobias que atrapalham o tratamento convencional”, diz o clínico-geral Hong Jin Pai, responsável pela acupuntura do Centro da Dor.
Outros hospitais oferecem outras terapia
Além do HC, pelo menos outros dois grandes estabelecimentos paulistas -o Hospital do Câncer e o Hospital do Servidor- oferecem mais de um tipo de terapia comportamental como coadjuvante dos tratamentos convencionais. Em Curitiba, Porto Alegre e no Rio, os hospitais também criaram serviços semelhantes.
A forma como essas terapias atua no organismo ainda é alvo de investigações científicas, mas médicos e pesquisadores defendem seu uso argumentando que os pacientes se curam mais rápido e de forma menos traumática.
“Não é fácil obter prova científica do valor das terapias comportamentais, mas estou convicto de que a qualidade de vida dos pacientes melhora quando são submetidos a elas”, diz Protásio da Luz, diretor da Unidade Clínica de Arteriosclerose do Incor (Instituto do Coração).
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“complementar”, já que as modalidades são oferecidas ao paciente paralelamente ao tratamento convencional. “O termo alternativo tem um estigma ruim, dá a entender que não são práticas cientificamente comprovadas. Prefiro chamar de forma de tratamento não medicamentosa ou não invasiva”, diz a diretora do Serviço de Psicologia do Incor, Bellkiss Romano.
Um tratamento complementar
Os médicos também frisam que tais técnicas não substituem o tratamento convencional. “Ninguém vai deixar de fazer quimioterapia para ser tratado com acupuntura. Isso é inconcebível. Mas, se a acupuntura pode tornar a vida do paciente submetido à quimioterapia mais suportável, por que negar a terapia?”, questiona Humberto Torloni, diretor do Centro de Pesquisas do Hospital do Câncer.
As terapias comportamentais oferecidas pelos hospitais são reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina. “Ninguém está testando nada nos pacientes. Estamos usando instrumentos terapêuticos e de diagnóstico reconhecidos por lei”, diz a psiquiatra Regina Cosentino, responsável pelo setor de hipnose do Servidor. Aliás, a técnica com a qual a médica trabalha é uma das mais estigmatizadas pela classe médica.
Apesar da resistência, três dos maiores centros médicos paulistas vêm usando a hipnose regularmente para reduzir a ansiedade de pacientes, combater fobias que dificultam o tratamento e minimizar os efeitos colaterais da quimioterapia.
“A hipnose saiu das mãos dos médicos e foi parar no circo. Agora estamos tentando trazê-la de volta ao ambiente hospitalar para que seja usada para fins médicos, e não como atração bizarra. Mas é preciso cautela”, diz a psiquiatra Maria Teresa Lourenço, que há três meses vem usando experimentalmente a hipnose no Hospital do Câncer.
Os resultados positivos
Os resultados obtidos nos primeiros 15 pacientes deram ânimo à equipe, e a hipnose deve ganhar um ambulatório exclusivo até o meio do ano. “Uma das primeiras pessoas que tratei tinha claustrofobia e precisava ser anestesiada cada vez que fazia exame de ressonância magnética. Com duas sessões de hipnose conseguimos acabar com o medo, e hoje ela faz o exame sem ajuda de medicamentos”, conta Maria Teresa.
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Apesar dos bons resultados, ela prefere continuar trabalhando sem alarde. “Muito médico daqui não sabe que o ambulatório está sendo montado. Temos apoio da direção, mas nem todos os médicos veem com bons olhos nosso trabalho”, diz.
Regina Cosentino, responsável pelo setor de hipnose do Hospital do Servidor, também prefere manter a atitude “low profile”, embora já venha utilizando a técnica há um ano. “Começamos de maneira tímida, sem divulgar os excelentes resultados que obtínhamos para não assustar os médicos que ainda tinham na cabeça o mito da hipnose de palco. Aos poucos, estamos mostrando que, quando bem utilizada, a hipnose só traz benefícios aos pacientes”, diz Cosentino.
Escondidos
Ao contrário dos Estados Unidos, onde polpudas doações de entusiastas permitiram que as terapias comportamentais conquistassem instalações nobres na geografia hospitalar, elas ainda ocupam espaço físico bastante tímido nos hospitais de São Paulo. A maioria “aluga” salas em departamentos já existentes, chefiados por médicos simpatizantes. É o caso do laboratório de acupuntura do Hospital do Câncer, que funciona improvisadamente nas salas do centro de cirurgia pélvica.
“O chefe do setor sempre apoiou a ideia de trazer a acupuntura para cá e deu abertura para que usássemos as salas do departamento”, diz o ortopedista e acupunturista Wu Tu Chung. Por não ter espaço próprio, Wu só atende 20 pacientes por semana. “Nem faço propaganda porque não teria como dar conta da demanda. Tenho de aproveitar dias e horários de menos movimento aqui na cirurgia pélvica.”
A menos de 20 metros das salas ocupadas por ele, a psiquiatra Maria Teresa Lourenço também “subloca” espaço do departamento de tórax para atender pacientes do ainda embrionário laboratório de hipnose.
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“Faço as sessões aonde dá. Dentro do quarto do paciente, no ambulatório, nas salas de consulta aqui do tórax. O ideal seria ter uma sala só para a hipnose, mas, por enquanto, é melhor ficar longe dos holofotes”, diz Teresa.
No Hospital do Servidor a acupuntura e a meditação já têm espaços próprios. Mas a montagem das salas também foi feita de maneira improvisada.
“Só conseguimos graças ao esforço pessoal de alguns médicos e funcionários”, conta o ortopedista Osvaldo Abramovictz, um dos responsáveis pelo espaço.
Os cinco quadros que enfeitam as paredes da sala foram cedidos pelas monjas do Zu Lai, templo budista de Cotia, na Grande SP.
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As almofadas e os colchonetes foram feitos pelas costureiras do hospital, durante o tempo livre. “Elas ficaram semanas juntando os retalhos para encher as almofadas. Sem esse tipo de colaboração, não haveria como transformar uma enfermaria em espaço de meditação”, afirma Abramovictz.
Fonte: Portal Médico
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