Cresce o interesse pela hipnose, técnica usada para anestesiar e ajudar no tratamento de fobias a traumas sexuais.
Por Lia Bock
Nada de incômodas, injeções de anestesia ou longuíssimas terapias para tratar uma fobia ou controlar a ansiedade. Muitos médicos e pacientes estão substituindo essas técnicas convencionais pelo uso da hipnose, método usado desde a antiguidade para ajudar na cura de doenças.
Sob estado hipnótico, é possível induzir o indivíduo a não sentir dor durante partos ou procedimentos dentários e também ajudar pessoas a se livrarem de angústias e neuroses de forma mais rápida. A utilização da técnica está despertando tanto interesse que o Conselho Federal de Psicologia foi obrigado a regulamentar seu uso, há um ano. A entidade seguiu o exemplo dos Conselhos de Medicina e de Odontologia, que já endossaram a técnica há mais tempo. O objetivo é garantir que a hipnose – segura e eficaz – seja aplicada corretamente e por profissionais qualificados.
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A iniciativa é compreensível. Afinal, a hipnose é uma técnica bastante séria que age em uma área pouco conhecida do ser humano – a mente. E ainda não se desvendou completamente sua forma de ação. O que se sabe é que o método altera o padrão de consciência, facilitando o afloramento de conteúdos existentes, mas que não estão presentes em estado consciente. Para que isso aconteça, é preciso haver uma indução, feita pelo profissional. A maioria utiliza a própria voz para dar os comandos e alguns usam o pêndulo, objeto símbolo da hipnose. Seu movimento contínuo e lento ajuda o indivíduo a se concentrar e a ficar sob hipnose. Essa indução não é mágica. Ela é resultado de uma técnica apurada aplicada pelo hipnotizador.
O transe nada tem a ver com relaxamento. Na hipnose, o movimento cerebral é intenso, enquanto no relaxamento há uma diminuição da atividade dos neurônios. Com o paciente hipnotizado, o profissional dirige o raciocínio do indivíduo de acordo com a finalidade do tratamento. Se o objetivo for anestesiar, o médico estimula o paciente a evocar uma sensação de anestesia já registrada no cérebro. Pede, por exemplo, que o indivíduo se lembre do que sentiu quando ficou com a mão dormente. A partir dos comandos do hipnotizador, essa sensação é transferida à região a ser tratada – a boca, por exemplo, nos casos de procedimentos dentários. Mas a forma como esses pensamentos se traduzem em estados físicos – não sentir a dor, por exemplo – ainda não está esclarecida. Atingido o objetivo, o profissional realiza o trabalho. Para manter o paciente hipnotizado, é necessário que ele seja estimulado o tempo todo. Caso contrário, o transe acaba.
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Substituindo a anestesia
Uma das utilizações mais comuns da hipnose tem sido substituir a anestesia. Já há partos sendo realizados com a ajuda do método, mas a técnica é mais frequente nos consultórios dentários. É uma alternativa para quem tem medo de injeção, gestantes e outras pessoas que não podem ter contato com os anestésicos. Em alguns casos, ela é usada até para acalmar os mais medrosos. “Uso o método para fazer com que pessoas que sofrem por causa do barulhinho do motor não o escutem”, conta o dentista e cirurgião buco-maxilo-facial Cláudio Antônio Gargione, professor da Universidade de São Paulo. Gargione usa o método há 14 anos e se especializou na utilização da técnica para o atendimento a pacientes com distúrbios mentais e portadores de paralisia cerebral.
O estudante Ricardo Vilar, 20 anos, contou com a ajuda de Gargione ao ser submetido a uma cirurgia para corrigir o nariz fraturado realizada sob estado hipnótico. Não que tivesse optado por isso, mas em virtude de uma casualidade. Ricardo fraturou o nariz em uma briga. Mas era noite e o anestesista do hospital procurado não estava disponível. Foi então sugerido por Gargione, que faria a operação, que se usasse a hipnose. O estudante e sua família ficaram receosos, mas resolveram tentar. O dentista chamou o hipnólogo e amigo Fábio Puentes, conhecido por demonstrações na tevê, para ajudá-lo. Com mais de 40 anos de experiência, Puentes se responsabilizou pela hipnose e Gargione pela cirurgia. Vânia Vilar, mãe de Ricardo, admite que não acreditava na eficácia do método. Mas tudo correu bem. “Lembro-me de tudo. Estava acordado, mas não sentia dor. Meu nariz estava realmente anestesiado”, disse Ricardo.
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Uso da técnica em vários tratamentos
Na Universidade Federal de São Paulo, especialistas usam a técnica para auxiliar no combate à dependência de cigarro, no controle de tiques nervosos, na diminuição do stress e no tratamento de traumas sexuais. Nesses casos, a hipnose ajuda o paciente a modificar uma determinada forma de pensar ou a identificar bloqueios relacionados aos problemas. Não é por acaso que um dos melhores resultados obtidos com a ajuda do método é no tratamento do vaginismo absoluto psicogênico. A doença atinge mulheres que, mesmo sem apresentarem impedimentos orgânicos, não conseguem permitir a penetração do pênis durante o ato sexual. “A técnica auxilia essas pacientes a encontrar a origem da dificuldade e, aos poucos, superá-la”, explica Osmar Colás, coordenador do Grupo de Estudos de Hipnose da universidade paulista.
Em geral, os resultados aparecem depois de seis sessões. Essa rapidez é uma das razões que explicam o aumento do interesse pela técnica, em especial na psicologia. A maioria dos pacientes do psicólogo e hipnoterapeuta Bayard Galvão, de São Paulo, por exemplo, recebe alta entre a quinta e a vigésima sessão. “A hipnose acelera o processo da psicoterapia. No transe, o paciente se concentra nos pensamentos que interessam para a terapia. É um pensar específico”, explica Galvão. De acordo com o psicológo, a técnica é eficiente no tratamento de fobias, síndrome do pânico e outros distúrbios psiquiátricos. No entanto, o método também auxilia no tratamento de problemas mais comuns, como desentendimentos familiares e conflitos pessoais.
A designer de jóias Maria Aparecida Gomes, 40 anos, submeteu-se à hipnose para tratar a angústia gerada pelo fato de ter de se dividir entre o trabalho e a filha pequena. “Sofria muito. Quando estava em casa, achava que deveria estar trabalhando, e, quando estava na loja, a consciência pesava por largar a minha filha”, lembra. Foram necessárias apenas cinco sessões para que Maria Aparecida controlasse a ansiedade. Ela não mudou a rotina, mas aprendeu a lidar com a situação.
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Por enquanto, ainda não se conhece o total de profissionais que utilizam o método. Mas no Brasil não há cursos de especialização em hipnose nas universidades, e os profissionais têm que recorrer a cursos extracurriculares para se tornarem capazes de aplicar o método. Por isso, todo cuidado é pouco na escolha de um profissional que utilize a hipnose. As entidades que congregam médicos, dentistas e psicólogos sugerem que os interessados verifiquem nos respectivos conselhos o registro do profissional e procurem conversar com quem já tenha se tratado para se assegurar da qualidade e seriedade do escolhido. O psicólogo catarinense Álvaro Aguiar, que já utilizou a técnica, teme que o crescimento do interesse pelo método resulte em prejuízo para o paciente. “Hoje, há profissionais que fazem cursos de 50 horas e se dizem hipnoterapeutas. É preciso um treinamento mais sério para que a hipnose seja aplicada de maneira correta”, afirma. O psicólogo não duvida da eficácia da técnica. “Ela realmente funciona e defendo seu uso para casos específicos, como perda de memória, nos quais outras técnicas não obtiveram sucesso”, explica.
Da Magia à Ciência
Nas culturas antigas, a hipnose era usada na cura de doenças. Sua utilização era impregnada de magia e misticismo. No final do século 18, o método passou a ser investigado pelo médico austríaco Franz Mesmer. Para explicar o que ocorria, ele primeiro afirmou a existência de um fluido magnético dos corpos celestes e, depois, de um magnetismo humano. Mas seu trabalho foi desvalorizado pela comunidade científica, que creditou à imaginação do paciente o que Mesmer dizia vir do magnetismo.
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Foi o médico inglês James Brad que no século 19 cunhou o termo hipnose. Ele vem do grego hypnos, que simbolizava o deus do sono na mitologia grega. Brad logo se arrependeu do nome, pois percebeu que a hipnose era justamente o oposto do sono, já que se caracterizava por intensa atividade mental. Durante anos, a técnica ficou esquecida. Só em 1889, com o I Congresso Internacional de Hipnotismo Experimental e Terapêutico, ela voltou a ser respeitada. Nesse congresso, estava o jovem psiquiatra Sigmund Freud. Considerado o pai da psicanálise, ele chegou a utilizar o transe no tratamento de pacientes, mas logo abandonou a técnica. No início do século 20, o psiquiatra americano Milton Erickson demonstrou que a hipnose é um fenômeno natural da mente, teoria aceita até hoje.
Fonte: Revista Isto É
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