Como controlar a Agressividade Infantil | Entrevista com Dr. Odair Comin
Entrevista sobre como controlar a Agressividade Infantil com o *Dr. Odair J. Comin concedida ao Portal BBel – UOL para a jornalista Loreta Fagionato.
1. Crianças que mordem ou empurram amiguinhos, xingam e batem nos pais e outros adultos, fazem birras ou escândalos sem necessidade, podem ser consideradas agressivas? Em qual faixa etária é mais comum a criança ser mais agressiva?
OJC: Qualquer manifestação que remeta a violência, comportamentos rudes ou desvios de conduta, podem ser considerados agressivos. Tais atitudes geram dor, constrangimento, mal estar e isso é agressivo.
A agressividade se manifesta na medida em que há interatividade, o objetivo é subordinar o outro a si, isso geralmente ocorre de forma inconsciente nas crianças. Portanto, a incidência maior começa acontecer na medida em que a criança interage com outras crianças na fase escolar, e se estende no decorrer, se caso a agressividade não for trabalhada.
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2. A agressividade infantil pode ter vários motivos: chamar a atenção das pessoas, fazer birra, nervosismo por alguma frustração, entre outros. Como saber o real motivo dessa agressividade e como lidar com isso?
OJC: É preciso estabelecer uma comunicação com a criança, jamais devemos subestimá-la, achando que se falarmos ela não irá entender. Normalmente entendem muito mais cedo do que imaginamos. Assim como os adultos, as crianças também podem ter dificuldade de expressar o que está se passando. Contudo, na medida em que se faz uma investigação é possível identificar os motivos. Mediante tal descoberta, lidar com isso da melhor forma possível. Buscar compreender seus motivos, ao mesmo tempo em que deve-se direcionar tal frustração, com comportamentos saudáveis. Incentivar a criança a falar aos pais ou a um adulto, o que está acontecendo, comunicar o que quer, expressar seu desejo sem necessidade de agressão ou comportamentos “extravagantes”.
3. É verdade que a agressividade infantil está ligada à dificuldade da criança se expressar?
OJC: Por vezes sim. Ela não consegue compreender os próprios pensamentos e sentimentos que tem, menos ainda poder expressá-los de forma clara. A agressividade acaba por ser uma válvula de escape, quando a mente não dá conta de resolver o conflito de forma racional.
Por outro lado, pode ter influência do contexto familiar ou da escola, que podem ser agressivos. Como pais violentos, ou se a criança for vítima de bullying na escola ou na rua. O ambiente também serve de base para tais comportamentos.
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4. Qual é o papel da escola na hora de lidar com uma criança agressiva?
OJC: Primeiro encarar isso como algo natural, somos seres agressivos, violentos e o que nos salva é a razão, as regras do bom convívio, as virtudes. Tais crianças não devem ser tratadas de forma diferente ou isoladas do grupo, ou mesmo taxadas como agressivas. Normalmente tal comportamento é um pedido de socorro, por isso cabe aqui também a conversa, para que se busque os possíveis motivos da agressividade. E para isso, a criança precisa sentir-se protegida, confortável, e que realmente será ouvida, e que seu expressar não será em vão. Que a partir disso, terá soluções que a deixarão mais tranquila.
Assim como os pais não devem delegar a completa responsabilidade à escola, o contrário também é verdadeiro. Ao mesmo tempo, a comunicação entre os dois é importante, tanto para afinar seus discursos, como para saber se tal comportamento se repete tanto em casa como na escola, ou são diversos. Pais e escola precisam trabalhar em conjunto para a melhor formação e educação da criança.
5. Como os pais podem castigar uma criança agressiva sem serem agressivos também?
OJC: Em todo tipo de castigo, algo precisa ficar claro para acriança: seus atos levam à consequências. A falta de cuidado quebra o brinquedo; bater no amiguinho o machuca; não cumprir algo que foi combinado, é quebra de acordo; mentir é quebra de confiança. As consequências de seus atos resulta em algo que não se deveria fazer, para tanto, como uma forma de aprendizagem (neste caso pela dor), têm-se o castigo.
O castigo deve envolver algo que a criança valoriza muito, e neste caso ninguém melhor do que os pais para identificar. Depois de conversar e deixar claro para a criança, o porque de estar recebendo o castigo, pode-se privá-la por um período de coisas, lugares ou atividades que ela valoriza. É precisa ficar claro que o mau comportamento a privará, ou fará com que perda algo, e que isso não vale a pena. Por outro lado, também é importante premiá-la pelo bom comportamento. Que por vezes resume-se em um simples elogio.
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6. Quando os pais são muito permissivos com a criança agressiva, eles estão piorando este quadro de agressividade no filho?
OJC: Sim, pois com isso, estão validando tal comportamento. Todos nós, ao nos relacionar, e neste caso as crianças, independente do comportamento que manifestam, precisam saber até onde podem ir. E em grande parte dos casos, a agressividade é um forma de implorar por limites. Os pais precisam identificar isso e dizer qual é o limite, quando é hora de parar. Ao mesmo tempo, ensiná-las que elas podem comunicar seus anseios por palavras, de forma inteligente. Sem a necessidade instintual de comportamentos agressivos. Quando os pais permitem um determinado comportamento, seja ele qual for, estão comunicando: “isso filho, continue, papai, mamãe te apoiam”. E a criança é muito boa em identificar tais sinais e continuar.
7. Levar a criança para brincar ou para praticar algum esporte pode ser uma forma dela descarregar a agressividade? O que mais pode ser feito para melhorar o quadro de agressividade do filho?
OJC: A agressividade é um fenômeno da mente, que pode se manifestar no corpo ou em comportamentos, seja ele autopunitivo ou agressivo com o outro. Pensar em uma atividade para descarregar a agressividade, é não pensar nas causas, e sim apenas nas consequências. Se a agressividade tem de ser descarregada, é porque ela está sendo produzida, então precisamos entender o porquê dessa produção.
Certamente que tais atividades podem ajudar, mas não devem ser a única saída, talvez nem mesmo vê-las com esse conceito de “descarregar”, mas sim como: direcionar a criança para algo saudável. Toda vez que direcionamos a criança para o que consideramos bom, geralmente a consequência será algo saudável.
Portanto, sendo a agressividade um produto da mente, é necessário investigar as causas e trabalha-las no campo das ideias. Que tipo de associações e articulações a criança faz para culminar na agressão.
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Obs: A questão por vezes mais complicada é que, na medida em que investigamos os reais motivos da agressividade, mais nos aproximamos dos pais. E isso, nem sempre é bem visto, nem sempre é admitido pelos genitores, que do alto de sua soberba acreditam que sempre fazem o melhor. Sim, é possível que sempre façam o melhor, mas o melhor aos olhos de quem? Mas a intensão de fazer o bem, nem sempre culmina no bem em si. Quem sabe seja necessário desnudar-nos de nossos preconceitos, de nossa ignorância, de nossa arrogância e poder perceber que nem sempre acertamos.
Identificar possíveis erros, admiti-los e buscar novas formas de educar e conviver com os filhos. A frase mais batida de todas: os filhos são reflexo dos pais, continua tão verdadeira como sempre foi. Mas nem sempre aceitamos um reflexo de nós, que não seja aquele que vemos no espelho. É preciso assumir a responsabilidade por aquilo que compartilhamos com nossos filhos. E para que eles sejam melhores, precisamos antes melhorar a nós mesmos, para que cresçam virtuosos, precisamos nós praticarmos virtude.
*Dr. Odair J. Comin
Psicólogo Clínico, Especialista em
Hipnoterapia e Escritor
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